ZOORETA:
O PRIMEIRO ZOOLÓGICO LITEROIMAGOLOUCO ZURETA DO MUNDO!
Blog destinado àqueles que acreditam na possibilidade do absurdo e na realidade da imaginação. De três a quatro historinhas por mês, todas novilhas, todas bezerras, todas filhotas, os bichos serão desenjaulados das grades do cérebro e irão habitar o mundo fantástico que cada um tem dentro de si. Deixe-se contaminar pelas pestes, vírus, bactérias, minúsculos insetos, gigantes animais e solte a besta que exite em você. Ria, ria, porque afinal, rir é o melhor remédio. Antídoto contra qualquer praga!

Tuesday, August 7, 2007



SANGUESSUGA POETA


Em 05/08/07, domingo tenebroso, André Ricardo Aguiar escreveu:

Eu estou com um problema de saúde na perna (furúnculo, e vou resolver isso ainda hoje...) se eu morrer, deixo como testamento toda a minha produção zooreta e mais os direitos de pequenas reinações...rs.
Beijo,...
André.

Em 06/08/2007, Monday Morning Feeling, Márcia Széliga respondeu:
Assunto: Sanguessuga Poeta

Vou te dar aqui uma atenção
antes de sua extrema-unção:
Vai deixar saudade, cumpadre.
Então, por zelo à nossa amizade
e preocupação com sua saúde,
para que não chame um padre
e vá parar num ataúde,

Bota aí uma sanguessuga
pra chupar seu furúnculo,
dizem que ela chupa até verruga,
antes que você vire defunto.
Depois pergunta a ela se cai no gosto.
(justo nesse mês de desgosto!)

Aposto que irá responder palavras certas
com refinada erudição,
do que coisas tolas e concretas
como estas que compus.
E você há de transformar a bichinha em poeta
com esse precioso néctar: seu leitoso pus.

Agora, só pra finalizar,
bom mesmo é expurgar
a sensação de perneta,
botando sanguessuga pra declamar
versos purulentos no zooreta.

Enquanto aqui me empenho
pra bichinha virar desenho,
eis que me surge, ora veja só, uma luz!
Sanguessuga vira Sugapus!

Beijo no dodói

(Eca! Primeiro remova a meleca!
E vá sem medo meu amigo,
aqui à distância tô contigo!
Vá explodir esse vulcão,
pelo prazer de ver
sair o carnegão!),

Márcia Széliga


A TARTARUGA

A tartaruga é uma pedra
da pá virada
que anda e anda e anda
dentro da própria casa.

A tartaruga é uma pedra
assombrada
que cansa e cansa e cansa
o tempo da sua caverna.

A tartaruga é uma pedra
atirada,
e só sabe ser uma boa pedra
quando não faz mais nada.
André Ricardo Aguiar

Sunday, July 22, 2007

Rajanesh Rajado,
O Guru Carrapato

Montado serenamente,
Entre pêlos sedosos,
Sugando um bom prato
Nas costas do Gordo Gato
Estava Rajanesh Rajado
- Aquele Que Nem se Mexe -
O Guru Carrapato.

Tão enfastiado, estufado,
Enquanto chupava
O sangue que amava,
Rajanesh Rajado
Repetia o mantra do universo
Em prosa e verso,
Deixando o Gordo Gato
Em contemplativo estado:
Nhomm... Nhomm...
Dai-me sangue bomm...

Mas o dono do Gordo Gato,
Praticante místico novato,
Tratou do bichano em seu tormento.
Com a sabedoria de se queimar karma
De toda aprisionada alma
É que se liberta do sofrimento.

Realizou assim pequeno sacrifício
Por meio de eficaz artifício:

Num ritual de transformação
iniciou Guru Carrapato,
O Rajado Rajanesh
- Aquele Que Nem se Mexe -
No Caminho da iluminação.

Defumou ar e ambiente
Com incenso de mirra
Pra elevar a mente.
E com brasa ardente
Atingiu bem na mira
Rajanesh Rajado
- Aquele que Nem se Mexe -
O Guru Carrapato.

A brasa em chama
Fazia cócegas
Na barriga rotunda
De Guru Carrapato.
E mesmo sugando o que ama,
Saiu de meditação profunda,
desfez a postura de yoga
E ao gargalhar quase se afoga.

Rajanesh Rajado,
O Guru Carrapato
- Aquele que Nem se Mexe -
e nem se mexer vai mais,
virou manchete dos jornais.

Na voz de Cid Toupeira
- Aquele que só fala asneira -
anuncia aos discípulos carrapatóides
levitando leves entre asteróides,
que escutam em pasmaceira:

“Morre carbonizado
Rajanesh Rajado,
O Guru Carrapato
- Aquele Que Nem se Mexe -
e nem mais há de se mexer de fato.
Pelo Santo Incenso foi canonizado.”

O ar se enche então de prana.
Rajanesh atingiu o Nirvana.
O Guru Mestre iluminado.
Gordo Gato dorme descansado
Até que o próximo Guru Carrapato
Seja nesta vida reencarnado.
Márcia Széliga

Tuesday, July 10, 2007


ÁCARO ÍCARO

Ali onde mora o ácaro tão pequeno
No labirinto do tapete,
No canto da parede
Mas que fica invisível ao extremo.

Tem um nome proparoxítono
Quase um estilingue de sílabas
Que o pai, por gosto de lenda
Viu que Ícaro caía bem (sem asas)

Nalguma praia do assoalho
(Bem-dito o espirro que o trouxe)
Observando o mundo como se lupa
Fosse, e os macróbios, sua fauna.

Ícaro curtia o menor soprinho
(era a sua forma de fugir)
E cuidava do conselho que o pai lhe deu:
Tudo é desvio de caminho.

O mundo não é um tapete, um nariz,
Uma tribo de pulgas, um jardim de pó
Ou o Grande Aspirador:
Quem se perde, perde sem dó.

Melhor ser assim, invisível e bocó:
Todo ácaro é um só.
André Ricardo Aguiar


A OVELHA AMBICIOSA


Taí, eu não vi a ovelha
na fase mais novinha
para mim sempre foi ó, velha
- ou como dizem, crescidinha
já entrada em anos.

Ai, teve uma vida mole,
porque escapou da tosquia
e contrabandeou algodão
num mercado de pulgas da Turquia
pródigo em lendas e lãs.

Teve todo tipo de viço
e sonhou em ser eleita miss
da mais fina seda, e isso
ao comer, vá lá, a sua aveia
como sempre quis...

Calhou que foi cotada
por um comerciante,
que com cara de muxoxo
disse num rompante:
topa ser absorvente de baleia?
André Ricardo Aguiar